Devotos da tradicional cerimónia japonesa do chá são quase sempre pessoas de gostos refinados. O Templo Koetsu-ji e as suas sete casas de chá constituíram em tempos a residência de Koetsu Hon Ami, a pessoa mais erudita em Quioto no séc. XVI. Ele estabeleceu novas formas de arte japonesa, que chegaram às vidas dos cidadãos comuns diretamente a partir dos artistas. Mais tarde, um dos movimentos que ele começou, tornou-se na Escola Rimpa liderada por Sotatsu Tawaraya. Koetsu ajudou Sotatsu a crescer como artista. Por essa razão, Koetsu é chamado o Pai da Escola Rimpa.
Koetsu e a sua família tinham uma forte fé na Seita Nichiren do Budismo, e a sua residência tornou-se num templo dessa mesma seita depois da sua morte.
Templo Koetsu-ji
À entrada, senti algo de diferente dos outros templos, mas não sabia bem qual era a diferença. Tive apenas uma sensação muito confortável e feliz. Sem a tensão, sem a pressão, e sem a excitação que normalmente sinto noutros templos. Aqui, apenas me senti aliviada. Caminhado através do portão em direção ao estreito caminho de pedras, a sensação de alívio e calma tornou-se ainda mais forte.
As sete casas de chá estão situadas em diferentes partes do amplo jardim do templo. Têm todas diferentes gostos. O interior destas casas de chá não está aberto ao público, mas podemos apreciar o jardim, e as vistas da montanha nos bancos ou nos observatórios no jardim. Koetsu usou ideias inovadoras em muitas coisas: as pedras nos caminhos que levam às casas de chá são algumas vezes arredondados, mas outras vezes são quadrados e planos, e por vezes estão dispostos em linhas retas, mas noutras vezes em linhas curvas. Uma cerca de bambu que estava disposta em redor da casa de chá "Taikyo-an" tinha um estilo único e bastante moderno.
Koetsu Hon Ami
Koetsu Hon Ami nasceu numa família de peritos em espadas japonesas. A beleza da lâmina das espadas japonesas atrai muita gente, mas o cabo, o guarda-mão, e a bainha também são muito apreciados. Estas partes decorativas são feitas com um grande nível de trabalho artístico a nível de metal, utensílios de laca, pintura, produtos têxteis, madrepérola, entre outros. Koetsu foi treinado desde muito cedo para continuar o negócio da família, tendo-lhe sido incutido também a capacidade para apreciar e julgar a arte. Mais tarde na sua vida, ele tornou-se num rico mercador de classe alta.
Além deste negócio de família, Koetsu adorava e dominava a cerimónia do chá, caligrafia, arte de cerâmica, arte de laca, e mais. Também estava envolvido em publicações de várias edições de colecionador de clássicos. Ele queria entregar às próximas gerações o seu conhecimento e amor por estas técnicas tradicionais de arte japonesa que se viam em declínio face à invasão da cultura chinesa que estava a crescer e a tornar-se bastante popular entre os homens cultos. A cultura chinesa, como o Zen, pinturas em tinta preta, entre outras, eram populares naquela altura.
Por volta dos seus 40 anos, ele descobriu um jovem e futuro talento, Sotatsu Tawaraya (1570?-desconhecido). Koetsu convidou-o a juntar-se a um projeto de restauração das pinturas no Santuário Itsukushima Jinja. O génio de Sotatsu para fazer pinturas enormes desabrochou com a sua experiência.
Em 1615, quando Koetsu tinha 57 anos, Tokugawa Ieyasu (o primeiro Shogun do Shogunato Tokugawa) deu a Koetsu 297 000 metros quadrados de terreno nos subúrbios a noroeste de Quioto. Era uma forma de banimento. Diz-se que foi porque Koetsu tinha uma extraordinária influência nas pessoas, e chegava mesmo a ter um papel intermediário entre os nobres da corte e os mercadores de classe alta. Ieyasu tinha medo da sua popularidade e queria que Koetsu ficasse longe do centro de Quioto.
Mas Koetsu considerou esta situação como a sua boa sorte e construiu aí uma aldeia de arte. Convidou vários artistas e especialistas como ourives, produtores de têxteis e de papel. Então, promoveu vários projetos artísticos. Ele foi o primeiro japonês a pensar que a arte deveria ser baseada na rotina diária: algumas necessidades diárias com decorações elaboradas tornariam a vida agradável. Os resultados dos seus esforços rapidamente ultrapassaram as fronteiras da aldeia de arte e mostraram-se no refinado senso e gosto da elite de Quioto e na alta qualidade dos produtos feitos em Quioto.
O trabalho de Koetsu
Koetsu também esteve envolvido na produção de muitas e belas caixas lacadas. Duas delas, "Caixa de Escrita de Funabashi Makie" (Museu Nacional de Tóquio) e "Caixa de Escrita de Shoyu Makie" (Museu de Arte MOA), são ambas obras-primas nacionais. O motivo da Caixa de Funabashi era constituído por dois famosos poemas clássicos de amor. Estes eram poemas clássicos que homens cultos decerto conheceriam. Koetsu não mencionou os poemas pelo seu nome, mas todos os homens instruídos rapidamente perceberiam a ligação entre a caixa e os poemas. A Caixa de Shoyu fora concebida a partir de uma famosa composição musical de Noh, "Shiga", em que entram um lenhador (Deus) e flores de cerejeira na primavera.
Koetsu Hon Ami abriu uma nova porta no mundo da arte japonesa do séc. XVI, especialmente nos refinados clássicos japoneses. Ele era um homem extremamente culto e descobriu e ajudou muitos artistas. Por favor toque na elegância das casas de chá de Koetsu e tente sentir a essência do que ele queria que nós percebêssemos.
Sobre esta série
A Escola Rimpa começou no Japão do séc. XVI. Os seus mestres usavam estruturas arrojadas, desenhos decorativos mas delicados, e procuravam criar belos espaços abertos. Os artistas categorizados na Escola Rimpa eram conhecidos pela sua tendência a serem independentes e a aprenderem através das pinturas de outros artistas. Nesta série, apresento cinco artistas da Escola Rimpa; mestres que contribuíram com grandes obras para a história da arte do Japão.
1 - Koetsu Hon Ami (1558-1637): Templo Koetsu-ji, Quioto
2 - Sotatsu Tawaraya (1570?-desconhecido): Templo Kennin-ji, Quioto
3 - Korin Ogata (1658-1716): Museu de Arte MOA, Atami
4 - Hoitsu Sakai (1761-1829): Jardim Mukojima Hyakka-en, Tóquio
5 - Soitsu Suzuki (1796-1858): Uma Paixão por Glórias-da-Manhã