Se já folheou um guia de Tóquio, ou se já consultou guias na internet, terá seguramente visto referência aos bairros de Ginza, Shibuya, ou Ueno. Contudo, a nova frente marítima da cidade também tem muito para descobrir! Neste guia vou apresentar os lugares para lá do "Minato" (literalmente: o porto), constituídos por bairros inteiramente edificados sobre aterros (terra reclamada) e para usufruto dos próprios tokyoítas. Num dia de sol, e sobretudo se puder fazer coincidir com um dia de semana, este é o sítio ideal para passear durante o dia e ao início da noite. Até lhe vou dar dicas sobre como combinar este itinerário com a visita a outras partes da cidade. Venha daí!
Vamos partir do princípio que se encontra perto da estação central de Tóquio, para efeitos deste itinerário. A Tokyo-Eki é servida por todo o tipo de comboios, metro ou autocarro, por isso pode deslocar-se até lá facilmente. A partir da Tokyo-Eki deverá ir para Shinbashi. Pode fazê-lo caminhando 15 minutos a pé, numa zona da cidade na qual é agradável passear (atravessa Ginza), ou pode apanhar o comboio da linha Yamanote (verde), que o levará lá em menos de 5 minutos.
Eu costumava recomendar a quem me consultava para efeitos de criação de itinerários turísticos no Japão, que o programa começasse ali mesmo, em Shinbashi, porque num quarto de hora a pé estavam no Tsukiji, o famoso mercado onde se fazia o leilão dos atuns às cinco e meia da manhã. Contudo, o Tsukiji deixou de fazer os leilões de atum, e muitas outras funções do mercado tradicional também, já que todo o sector de retalho de produtos frescos passou gradualmente para a zona de Toyosu. Assim, apesar de o Tsukiji continuar a ser um local interessante e com muitas lojinhas e pequenos restaurantes, já não é por ali que eu recomendo que comecem. Aliás, em Shinbashi deverão apanhar o comboio da linha Yurikamome (azul escuro), com direcção à estação terminal de Toyosu, e idealmente deverão fazê-lo bem cedo, isto para poderem ver o leilão dos atuns.
Após uma viagem de 25 minutos, deverão sair na estação Shijo-Mae, e depois é só seguir as setas para o "New Tsukiji" ou o "Fish Information Center". O leilão dos atuns acontece às 5:30h no edifício do mercado retalhista de peixe (há outros edifícios, dedicados a frutas, vegetais e outros produtos), é de entrada livre mas sujeito à lotação da galeria de observação. Enquanto no velho Tsukiji os visitantes tinham mais ou menos de conviver de perto com a azáfama do mercado em pleno funcionamento, no novo Tsukiji em Toyosu os visitantes têm de observar o leilão a partir de uma galeria no primeiro piso. Ainda se ouve o som do leilão porque o vidro da galeria não é completamente fechado até cima, mas a experiência ficou seguramente muito diferente. O espaço da galeria é também um pouco apertado, e considerando que podem existir centenas de pessoas naquele lugar, recomendo sempre a quem tem problemas de claustrofobia ou viaja com crianças pequenas a ter cuidados extra. Se visitarem no Verão, levem casacos na mesma porque a área do mercado do peixe é propositadamente mantida a temperaturas baixas. Os leilões do atum realizam-se apenas nos dias de semana laboral, e por isso é importante verificarem que não visitam num dia em que é feriado.
A principal vantagem deste novo espaço de observação é o seu enquadramento pedagógico, já que o edifício tem uma área de exposição com conteúdos sobre pesca sustentável, ecossistemas oceânicos, e factos sobre a fauna marítima. Para além disso, está tudo em múltiplas línguas. o que pode tornar a experiência muito mais acessível aos visitantes estrangeiros. Contudo, não recomendo que passem aqui toda a manhã, muito menos que vão comer nos cafés e restaurantes. Acontece que os preços são muito altos, e as filas de espera bem longas, o que comprometeria o resto do programa. Se quiserem um pouco de ar fresco, vão ao terraço do mercado. É uma zona ajardinada e com uma vista espantosa sobre o porto.
Depois da visita, caminhem 20 minutos na direcção sudeste, sobre a ponte que liga a zona dos mercados a Ariake/Kokusai-Tenjijo. Penso que não vale a pena apanhar transportes públicos, o que iria dar uma grande volta, quando o objectivo é desfrutar das vistas amplas e do ar fresco que o porto proporciona. Vão passar ao lado de um museu muito invulgar, o Museu dos Esgotos. O edifício em si é também muito estranho, mas o objectivo do equipamento é realmente interessante. Trata-se de um espaço do tipo "para toda a família", muito interactivo, embora quase exclusivamente em japonês, onde todos podem compreender a complexidade e engenho da gestão do sistema de esgotos e águas urbanas. Na verdade, é uma parte muito importante do funcionamento da cidade e da saúde pública, por isso até é bom que exista este tipo de museu.
Ao chegar a Ariake vão ter à frente o Tokyo Big Sight, uma vista inconfundível, assim chamado para atrair ainda mais a atenção do ramo dos negócios. Trata-se de um centro de convenções e eventos empresariais, com valências de Feira Internacional, enquadrado numa avenida larga e ajardinada. O aspecto moderno e envidraçado das pirâmides invertidas são a imagem de marca do Tokyo Big Sight, e por causa deste equipamento existem nas imediações vários hotéis destinados a alojar os gigantescos grupos de representantes das empresas quando há eventos. Por isso mesmo, as imediações do Tokyo Big Sight são um bom sítio para procurar hotel em Tóquio, já que fora das épocas de feiras internacionais os "business hotels" oferecem excelente relação qualidade-preço.
Com estas andanças todas, e considerando que saiu de madrugada, já deve estar a precisar de um pequeno-almoço. Recomendo o café "Doutor", que fica mesmo ao lado da estação Kokusai-Tenjijo, ou então o café "Veloce", perto da estação Tokyo Big Sight. Em ambos os estabelecimentos poderá tomar um pequeno-almoço de estilo ocidental, nomeadamente com café de boa qualidade, sumos de fruta, variedade de sandes e bolos, mantendo o orçamento sob controlo.
Enquanto estava à procura dos cafés para o pequeno-almoço deve ter reparado no edifício da Panasonic. Sim, é uma das coisas que pode visitar, de terça a domingo, por apenas 500 ienes por pessoa. Aqui pode ver em exposição a tecnologia da Panasonic ao longo dos anos e também os projectos que estão a ser desenvolvidos neste momento. Os protótipos e tecnologias ainda não comercializadas estão não só acessíveis como abertos à experiência, e existem até demonstrações, visitas guiadas e outros modelos de experiências sem custos adicionais.
Percorra o jardim, na direcção sudoeste, e chegará à ponte Yumenoo, de onde poderá ver os edifícios futuristas, as águas brilhantes do porto, e a cidade de Tóquio ao fundo, bem como a silhueta da roda-gigante, que lhe aparecerá do lado esquerdo. Em relação a sítios para tirar fotografias espectaculares, este é um dos melhores! Continue na mesma direcção, atravessando o parque Yume no Hiroba, até ver a estátua gigantesca de Gundam do seu lado direito. Tal como a transição do mercado de peixe do Tsukiji velho para Toyosu (em Odaiba), a estátua Gundam também é algo recente, tendo sido inaugurada em Setembro de 2017. A estátua tem animação às 11:00h e o espectáculo é gratuito. Contudo, para ter um bom ponto de vista, recomendo que chegue com alguma antecipação. Antes ou depois do espectáculo, não deixe de ir à plataforma de observação, uma varanda do edifício da Diver City, de entrada livre. É o sítio ideal para tirar aquela selfie memorável com o unicórnio robótico-futurista.
A "promenade" irá conduzir os pedestres por cima de ruas e edifícios, virando para norte, até se ligar ao jardim de Odaiba propriamente dito. Ou seja, quando vir o monumento "Chama da Liberdade", vire à direita. Vai passar ao lado do edifício da Televisão Fuji, também ele um dos símbolos da arquitectura única de Odaiba. Se quiser, pode fazer um desvio e ir visitá-lo, entrando na sala esférica de observação "Hachitama".
Depois de a "promenade" contornar o edifício Aqua City Odaiba, vai ver a pequena Estátua da Liberdade à sua frente. Esta é uma réplica da estátua original, francesa, aqui colocada para celebrar a relação do Japão com a França, em meados dos anos 90. O facto de a estátua estar também em frente de um porto (como o exemplar americano) e com uma ponte lindíssima por trás (a Rainbow Bridge), fê-la cativar o coração dos tokyoítas e dos visitantes, tendo-se tornado num emblema do encanto especial da zona de Odaiba. Com efeito, as vistas amplas, o quase excesso de espaço, os edifícios futuristas, a predominância de tecnologia e água, tudo isto em conjunto, faz de Odaiba um mundo à parte, profundamente diferente do resto de Tóquio, mas simultaneamente uma parte complementar e importante da cidade.
O itinerário segue pelo jardim na direcção nordeste, o que na verdade significa seguir por uma série de plataformas elevadas, sobre um corredor verde à beira da água, com vista para a Rainbow Bridge. Do seu lado direito encontrará um museu muito divertido, que recomendo vivamente! Trata-se do "Trick Art", o museu dos truques de vista, e é boa disposição garantida. Neste Museu pode ver e fotografar algumas das ilusões de óptica mais famosas dos filmes, tais como salas que parecem fazer de si um gigante, escapar por um triz a um animal selvagem, ou fazer parte de uma cena tradicional no período Edo. Nas imediações também há o Museu de Cera Madame Tussauds, e a "Game Arcade" Tokyo Joypolis.
Para almoçar, entre no Centro Comercial Decks Tokyo Beach, ou vá em busca de uma refeição num dos restaurantes que estão no edifício do Decks mas abertos para a rua. Recomendo o Jonathan's para quem viaja em grupos grandes (mais de 6 pessoas) ou em família (porque tem menus pensados para as crianças). A Yottekoya é uma excelente opção para quem quer mergulhar verdadeiramente na gastronomia japonesa. Este restaurante especializa-se em menus nos quais a estrela é a taça de "noodles", tendo muito por onde escolher, e sempre com os tradicionais acompanhamentos de arroz, pickles e algas. Há opções com carne e também opções vegetarianas.
Depois de almoço, encaminhe-se para a estação Tokyo-Teleport e apanhe a linha Rinkai até Shin-Kiba. Ao sair, siga cinco minutos para norte, verá logo as grandes esferas da Yumenoshima. Trata-se de um projecto espantoso, simultaneamente de preservação, investigação e educação, na qual parcelas de floresta tropical são recriadas como um ecossistema completo, dentro de três gigantescas esferas. Cascatas, palmeiras, a humidade característica do ar que se respira numa floresta tropical; pode encontrar tudo isso aqui.
Se pontes, engenharia e construções impressionantes forem alguns dos seus interesses, recomendo que dê um pulinho ao Parque Wakasu (a sul da ilha Yumenoshima) para ver a Tokyo Gate Bridge. Se estiver com disposição para deixar passar isso, siga directamente para Maihama, por via do comboio da JR da linha Keiyou, o qual pode apanhar em Shin-Kiba. Ao sair em Maihama estará à porta da Disneyland. "People watching" é um desporto para si? Então pode contar com um deleite de vista. Os tokyoítas adoram a Disneyland! E na verdade o fenómeno Disney é um pouco diferente no Japão, pelo que a experiência é muito especial e única, mesmo se já visitou outras.
No caso de realmente não ter interesse nenhum pela Disneyland, em vez de sair do comboio em Maihama siga até Ichikawa-Shiohama. Aí encontrará o Gyotoku Yacho no Rakuen, um santuário de aves e um parque lindíssimo.
Se, mesmo assim, este fim de plano não lhe agrada, porque já viu muita natureza neste dia, ainda tenho mais uma opção! Em vez de sair do comboio em Ichikawa-Shiohama, saia uma estação antes, em Shin-Urayasu. Caminhe cinco minutos na direcção noroeste, e encontrará o Urayasu Folk Museum. O ex-libris deste Museu é a recriação ao ar livre de um bairro da velha zona portuária de Urayasu, completo com casas, canais, barcos e tudo.
O regresso ao centro de Tóquio pode fazer-se através da linha de comboio Keyou (indo de volta para Shin-Kiba e depois mudando para o metro da linha Yurakucho, saindo na estação de Yurakucho, que fica a sul da estação central de Tóquio, mas realmente muito próxima desta) ou então apanhando em Minami-Gyotoku (em Urayasu) a linha de metro Tozai. A linha Tozai passa em Nihonbashi, uma estação praticamente ao lado da estação central de Tóquio.
Espero que este itinerário o inspire a descobrir os locais menos visitados pelos turistas, os mais recentes, e que para mim são os mais exemplificativos das transformações constantes desta cidade incrível. Este é o tipo de itinerários que gosto de fazer para os que me solicitam acompanhamento ou apenas que querem um plano original, por isso é como se estivesse convosco a passear por aí!