Ao contrário de outros templos Budistas no Japão, os sacerdotes do Templo Manpuku-ji adotaram exatamente as normas do Budismo Chinês (estilo Ming), e praticam este estilo ainda hoje. As vozes e o ritmo das recitações, e a entoação dos sutras têm uma bela e exótica sonoridade. Os edifícios do templo também são ao exótico estilo Ming. O primeiro sacerdote chefe do templo Manpuku-ji foi o virtuoso Sacerdote Mestre chinês Ingen Ryuki, e o seu Zen tem sido uma tradição inquebrável aqui há mais de 350 anos.
Detalhes atraentes
Há bastantes cores e desenhos atraentes neste templo: uma estátua dourada de Hotei com decorações coloridas, pavimentos de pedra desenhados em forma de dragão, telhados extremamente curvados, belíssimos reticulados, uma grande área com areia em frente à sala principal. Também há tecidos bordados com um peixinho e um pêssego pendurados em diferentes locais do recinto. Deixe-me explicar com mais detalhe.
Uma estátua dourada de Hotei fica situada na Sala Tenno-den, que é o primeiro edifício depois de passar pelo enorme portão de Sanmon. Tenno-den é considerada a entrada do templo, sendo que as pessoas começam por adorar a Hotei Buda, e depois caminham para o santuário interior.
Nos pavimentos que ligam alguns dos edifícios do templo, estão alinhadas pedras em forma de diamante no centro, sugerindo as escamas de um dragão. Dado que os dragões estão nas posições mais elevadas na China, apenas o sacerdote chefe pode pisar este pavimento.
Alguns dos edifícios têm telhados com curvas extremamente acentuadas ou com belos reticulados. Estes desenhos são ao estilo tradicional chinês (Ming).
Uma grande área com areia chamada Gettai, mesmo em frente à Sala Daioho-den, é usada para rituais especiais. Eles têm lugar nos dias de lua nova e lua cheia todos os meses. Pode ver uma pedra lisa no centro da Gettai. Ela é utilizada para confissões.
Um grande peixe de madeira pendurado no claustro é usado para saber as horas. Os peixes nadam sempre com os seus olhos abertos, por isso, encoraja os sacerdotes a serem aplicados. Um estandarte bordado com o desenho de um pêssego colorido está pendurado na Sala Kaizan-do, onde fica guardado o espírito de Ingen Ryuki. Os pêssegos são considerados talismãs para manter o mal afastado. Esta colorida decoração torna a sala viva.
Sacerdote Ingen Ryuki
Ingen Ryuki nasceu em 1592 em Fujian, Ming (Dinastia Ming 1368-1644) e foi convidado para o Japão como sacerdote chefe para o Templo Sofuku-ji, em Nagasaki, em 1654. Estava planeado ele ficar no Japão durante três anos. Por isso, no final do terceiro ano, foi-lhe pedido por diversas vezes que voltasse para a China, mas o Imperador e o quarto Xógum Tokugawa, Ietsuna, tentaram que ele ficasse por mais tempo. Eventualmente, Ietsuna doou um vasto terreno a Ingen, e ele fundou o Templo Manpuku-ji em Uji, Quioto em 1661.
Quando ele primeiro chegou ao Japão, os seus assistentes de Ming incluíam 20 sacerdotes e 10 artesãos. Ele e os seus seguidores trabalharam ativamente, e a arte, medicina, arquitetura, música, literatura, técnicas de impressão, chá verde sencha, e outras formas de cultura da Dinastia de Ming criaram raízes no Japão. Um feijão verde, agora chamado Ingen Mame, foi um dos produtos que ele trouxe consigo. Fucha Ryori (cozinha vegetariana ao estilo chinês) também foi introduzida por ele. Ilustra o conceito de que as refeições devem ser partilhadas com amigos, e ser divertidas.
A Dinastia Ming e o Templo Manpuku-ji
O sacerdote Toko Shinetsu (ver o artigo relacionado no Templo Daio-ji), que também era natural de Ming, visitou o templo Manpuku-ji em 1680. De acordo com o livro (『明朝末帝の日本亡命』), ele sabia de uma história secreta sobre o último imperador da Dinastia Ming dessa altura. A história era assim:
Em 1647, três barcos chineses apareceram de repente e atracaram na costa de Nagasaki. O Xogunato Tokugawa investigou os barcos, preparando as suas tropas para a ação. Surpreendentemente, eles encontraram nos barcos 360 pessoas incluindo um nobre de Ming de grande importância. Eram refugiados, que fugiam da recém-formada Dinastia Qing, e pediam proteção ao Japão. O Xogunato acedeu ao seu pedido, e secretamente deu abrigo ao nobre e à sua família. No entanto, as restantes pessoas foram banidas. A família do nobre foi finalmente inserida no clã Owari e viveu no Japão a partir daí. Mas durante um período após ter chegado ao Japão, ele visitava o Itokuden (a parte mais interna do templo) do templo Manpuku-ji para ter encontros secretos com o objetivo de restaurar a sua dinastia. No entanto isto não se concretizou, como a história mostra.
Manpuku-ji é um templo muito único, que mantém as etiquetas e o estilo da Dinastia Ming. Infelizmente, a maioria dos templos Budistas na China e especialmente os templos de Ming já se perderam, mas aqui no Japão podemos sentir e tocar nos seus costumes, crenças, arte, e estilo. O Zen do sacerdote Ingen e o seu espírito têm aqui sido mantidos. Pode dar um saltinho a Ming, China, apanhando um comboio de 20 minutos na Linha Nara da JR a partir de Quioto. Saia na Estação Obaku.
Sobre esta série: Budismo Além-Mar
Nesta série, gostaria de apresentar seis sacerdotes especiais da antiga China que tiveram uma grande influência no Budismo Japonês entre os séculos VIII e XVII.
1. Ganjin Wajo (688-763): Templo Toshodai-ji, Nara
2. Rankei Doryu (1213-1278): Templo Kencho-ji, Kamakura
3. Mugaku Sogen (1226-1286): Templo Engaku-ji, Kamakura
4. Issan Ichinei (1247-1317): Templo Shuzen-ji, Izu
5. Ingen Ryuki (1592-1673): Templo Manpuku-ji, Uji
6. Toko Shinetsu (1639-1696): Templo Daio-ji, Tochigi