No artigo anterior, que pode ler aqui, apresentei um panorama geral sobre a cidade de Kobe. Neste artigo sugiro um itinerário, de modo a tirar o melhor partido do seu dia nesta bela cidade portuária.
Ao chegar à estação de Shinkansen de Kobe (Shin-Kobe) apanhe o comboio urbano na linha Seishin-Yamate com destino ao centro da cidade. A viagem irá demorar apenas 6 ou 7 minutos porque é só uma estação. Saia em Sannomiya na direcção da Câmara Municipal (Kobe City Hall). As indicções escritas das direções estarão em inglês, pelo menos dentro das estações.
Irá deparar-se com uma avenida ao estilo dos boulevards parisienses, mas com muitos letreiros em kanji! Kobe recebe-o com a sua melhor roupa de festa, mais concretamente de flores. Esta avenida é chamada “Avenida das Flores” por causa dos canteiros floridos ao longo dos passeios. Repare nos impressionantes edifícios do século XIX em estilo europeu, como por exemplo o edifício de esquina Shosen Mitsui. Mas não se distraia, a Câmara Municipal fica logo a seguir.
A Câmara funciona em dois edifícios contíguos, um deles é uma torre muito alta. Entre sem receio e peça para subir. O último piso da torre é de acesso livre e gratuito e trata-se mesmo de um miradouro para apreciar o panorama de toda a cidade. Pode fazer isto logo ao chegar a Kobe, para ter uma ideia da configuração da cidade, ou deixar para o final do dia, para apreciar as luzes à noite. Pode ver como Kobe se desenvolveu na estreita faixa de terra entre as montanhas e o porto, mas hoje em dia uma boa parte da baixa da cidade estendeu-se sobre aterros.
Ao descer, continue na mesma avenida e na mesma direção e verá, do seu lado direito, o Jardim Yuenchi. Neste jardim há frequentemente mercado de produtos biológicos dos agricultores locais (aos sábados, geralmente), bem como eventos culturais, como por exemplo o festival de decorações luminosas (em dezembro) e vários matsuri (festivais populares) ao longo do ano. Mesmo se não estiver a decorrer um evento, a passagem pelo Jardim Yuenchi valerá muito a pena, pois aí pode encontrar um monumento dedicado ao português Wenceslau de Moraes, que foi Cônsul de Portugal em Kobe e mais tarde um ilustre cidadão estrangeiro no Japão rural (Tokushima). Moraes foi uma daquelas pessoas que, indo para o Japão, nunca mais voltou, pois encontrou lá a sua alma e a sua escrita, a sua voz e o seu silêncio. O Japão não o esqueceu e ergueram-se vários monumentos em sua honra.
No final do parque vire à direita. A menos de 300 metros chegará ao Museu da Cidade de Kobe. Se apenas tiver tempo para visitar um museu, é este que lhe dará uma melhor experiência do que foi e é esta cidade. O edifício, com as suas imponentes colunas, evoca o neoclássico europeu mas também o modernismo, e a sua localização é particularmente importante. O Museu compõe-se de duas coleções que foram para lá transportadas quando, em 1935, o edifício foi construído. Ocupa um quarteirão inteiro no bairro mais intensamente conotado com o ambiente internacional do porto: o bairro onde muitas das residências e embaixadas estavam localizadas, convenientemente rodeadas por uma colmeia de restaurantes, bares, salas de espetáculos e lojas, todas cheias de uma mistura indivisível de Japão e Ocidente. Das duas coleções permanentes deste Museu, uma delas é de natureza mais arqueológico-antropológica e outra é uma das melhores coleções de arte namban do mundo – isso mesmo: a arte japonesa que reflete a vivência entre os japoneses e os portugueses nos século XVI e XVII. Atenção que as peças de arte namban não costumam estar em exposição todo o ano. Devido ao dano que sofrem com o calor e humidade, estas costumam apenas estar expostas por períodos de poucos meses de cada vez. Por isso se planear visitar solicite informação antecipada ao Museu.
Neste Museu pode ver maquetas da cidade ao longo da sua história, recriação do interior das casas dos diplomatas estrangeiros que aí residiam, exemplos do crescimento da indústria e da expansão urbana através dos aterros. Obras de pintura, escultura e outras também estão disponíveis, embora não sejam o ponto forte do Museu. As legendas curtas estão indicadas também em inglês, mesmo que alguns dos textos mais extensos estejam apenas em japonês. Existem também brochuras e guias-intérpretes em inglês por um preço adicional ao do bilhete. Quanto ao preço, é praticamente simbólico, ronda os 300 ienes (pouco mais de 2 euros).
Ao sair do Museu, literalmente no meio do seu caminho ao passar pela porta, está um mapa da zona envolvente e do que há para ver por ali. Devemos louvar o sentido prático dos japoneses no que diz respeito a antecipar as nossas necessidades! Vire para a esquerda, no sentido do porto. Ao chegar à zona do porto, siga as direções para o Parque Memorial do Terramoto (Earthquake Memorial Park). Apesar do nome, este não é um monumento nem um local para obter educação sobre o evento. Se é isso que procura, visite o Museu exclusivamente dedicado ao terramoto de 1995, onde terá realmente uma experiência imersiva. O Parque Memorial é na verdade uma zona muito moderna do porto de Kobe, com uma vista maravilhosa sobre a água, e muitos restaurantes e esplanadas. Contudo, numa área pequena, foram deliberadamente preservados os vestígios da destruição causada pelo terramoto. Nessa área, devidamente protegida por grades, estão os muros partidos, os pavimentos talhados, os candeeiros de rua tombados, e tudo o mais que testemunha a violência dos movimentos tectónicos, congelados no tempo e mesmo ali ao lado da modernidade e do lazer. Mais uma vez, extraordinário exemplo da cultura nipónica, que constrói o amanhã mantendo bem viva a memória do ontem!
Regresse ao centro da cidade, passe pela zona do Museu que visitou anteriormente e continue ainda mais para norte, pois precisa de ultrapassar toda a área plana e também a linha do comboio para entrar na zona das antigas residências e embaixadas. O “Former Foreign Settlement”, na baixa, é hoje apenas uma zona onde se instalaram as lojas de marcas de luxo. O que tem interesse é a zona que se segue, quando se começa a subir. Não encontrará monumentos particularmente vistosos, apenas alguns cafés curiosos (como um café com o tema da Holanda por exemplo). A zona é essencialmente calma e bonita, boa para caminhar entre as casas e os quintais, subindo e descendo pela colina suave, encontrando santuários xintoístas ao lado de igrejas protestantes neogóticas, restaurantes de bife grelhado ao lado de cantinas de gastronomia local.
Os monumentos classificados estão quase todos em Kitano, já perto do sopé das montanhas. Mas não se preocupe, esta caminhada não lhe durará mais de duas horas, já que a faixa urbana de Kobe é mesmo muito estreita! Se tiver vontade de tomar uma refeição para recuperar as suas forças, invista num “bife de Kobe”, uma refeição de luxo com a carne de vaca exclusiva desta zona do Japão (isto se puder esquecer-se do que vai pagar e focar-se no lendário ingrediente que vai degustar).
Já que está em Kitano, prossiga para a sua ponta a nordeste (a mesma direcção da Estação Shin-Kobe) até ao Nunobiki Herb Garden. Ao entrar pode escolher percorrer o jardim a pé ou de teleférico, o que lhe pode dar um bom descanso depois de tanta caminhada. A zona interior, junto à estação superior do teleférico, vale mesmo a pena visitar, e mais não digo para não estragar a surpresa.
Pode depois regressar à entrada sul, descendo a pé ou de novo em teleférico, e seguir as indicações em direcção à estação Shin-Kobe, que lhe fica próximo.