22/09/2017

Arita: O Berço da Cerâmica Japonesa

Das montanhas de Kyushu para o mundo

Community writer

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O café e restaurante “Galeria Arita” é um estabelecimento que, para além de comida deliciosa, expõe uma impressionante coleção de chávenas criadas em Arita, as quais reproduzem exemplares históricos e passam por todos os estilos e períodos. Este estabelecimento fica muito próximo do Museu Prefeitural de Cerâmica de Kyushu, e tem estacionamento próprio para quem viaja de carro. A particularidade do serviço de almoços é a de oferecer a possibilidade ao cliente de tomar o chá ou o café numa destas chávenas. O cliente só tem de escolher a obra de arte onde deseja a sua bebida revigorante do final da refeição. Junto com o chá ou café servem também um doce. Este desfecho para um almoço já de si memorável está incluído no preço dos menus.

Arita é considerada o berço da cerâmica japonesa, pois foi aqui que o Japão começou a ter a sua própria produção original de cerâmica de qualidade. Antes do desenvolvimento da produção de cerâmica nesta região os japoneses importavam a cerâmica da China, por via da Coreia. No século XV e XVI os melhores mestres de cerâmica eram coreanos, e foram precisamente os coreanos que vieram instalar-se em Arita. Na língua japonesa antiga o nome dado aos coreanos era “korai” e neste exato local os coreanos rezavam aos seus deuses. Por isso o santuário de estilo xintoísta (japonês) tem um recanto no qual se encontra esta pedra com inscrições, e chama-se a esse espaço o Korai-jin (o deus dos korai).

Quando os coreanos chegaram ao Japão, estes estavam ao serviço de um senhor feudal, e ocupavam uma posição baixa no sistema de castas que então vigorava. No entanto estes artesãos tinham capacidades extraordinárias, já que conseguiam produzir com as suas próprias mãos as melhores loiças. Por isso foi-lhes dada proteção e autorização para criarem as suas fábricas. O primeiro local do Japão de onde extraíram as pedras necessárias à criação da matéria prima para a cerâmica foi a zona de Izumiyama em Arita. Trata-se de uma zona muito montanhosa e com vegetação cerrada, na qual o solo está cheio de água (daí o nome: montanha com água). Aqui, descobriu-se um tipo de pedra que, uma vez triturada, permitia criar o pó para a produção da cerâmica, fazendo assim concorrência à porcelana chinesa. Rapidamente se começou a explorar esta pedra, criando uma cratera na montanha e várias grutas (escavações). (Photo: The site of the Izumiyama Clayworks – STA3816 / CC BY-SA 3.0)

A produção de cerâmica e de porcelana exigiu a organização do trabalho, e uma coordenação muito cuidada. Os fornos tinham se ser alimentados durante mais de 40 horas consecutivas com grandes quantidades de madeira de pinho vermelho. Esta madeira vinha das montanhas circundantes e, quando era necessário, era também comprada a outras regiões. Os fornos eram construídos em colinas para que o calor dos fornos mais baixos subisse para os mais altos, e por isso a carga colocada em cada forno era variável. Nos fornos de temperatura mais baixa faziam-se as primeiras cozeduras, depois de aplicados os pigmentos faziam-se cozeduras a temperaturas mais altas, e por fim aplicava-se o vidrado e fazia-se ainda outra cozedura. As temperaturas dos fornos mais quentes atingiam os 1300 graus e o controlo era inteiramente manual, pela observação da cor das chamas e por muitos anos de experiência. Foto a partir do modelo do Museu de Folquelore de Arita.

Arita é uma cidade pequena, com o aspeto de uma vila e com o movimento de uma aldeia. A estrada principal, que outrora marcava a via dos mercadores e concentrava todo o movimento, é hoje essencialmente uma estrada normal de zona rural, embora ainda tenha o encanto de vários edifícios de madeira classificados como bens históricos sob proteção. Muitos visitantes passam apenas na estrada e ignoram o resto. Mas é nas ruas laterais, que outrora eram as ruas de acesso às oficinas dos mestres ceramistas, que podemos ver pitorescos muros de tijolos com telhados de telha negra. Estes muros parecem feitos de desperdícios e escondem uma história nobre. Entre os pedaços de pedra, tijolo, e cerâmica, estes muros contêm também fragmentos dos fornos, já que estes tinham periodicamente se ser substituídos. Dando um aspeto histórico às ruas, estes muros são o motivo pelo qual ainda hoje alguns filmes que retratam o período Edo são feitos aqui.

O Museu Prefeitural de Cerâmica de Kyushu é um dos melhores museus especializados em cerâmica de todo o Japão, tendo uma exposição muito detalhada e educativa, com legendas em inglês, e apresentando uma vasta e diversificada coleção. Surpreendentemente, este equipamento de tão boa qualidade é totalmente gratuito. Não significa isso que é pequeno ou mal cuidado, antes pelo contrário! Dispense pelo menos uma hora para a sua visita, e não perca a mostra do relógio festivo que se encontra perto da bilheteira, o qual toca a cada hora certa.

A história da cerâmica de Arita cruza o Oriente com o Ocidente, exemplifica as transformações da estética e da política, e hoje em dia oferece-nos experiências maravilhosas, ligando gastronomia e arte, decoração e utilidade. Quando o clã Nabeshima desenvolveu a produção da cerâmica em Arita, estava longe de imaginar que se tornaria no centro de produção de toda a cerâmica japonesa, e mais tarde, no maior exportador de cerâmica do país do sol nascente. Feitas nas ruas de Arita, primeiro para os samurai e depois para os europeus, estas peças vieram a adornar as casas mais nobres do mundo.

Arita é essencialmente uma cidade tranquila, com pouco movimento nas ruas e muitos alojamentos disponíveis, sem um comércio intrusivo ou eventos ruidosos, exceto na Golden Week (semana dos feriados no início de Maio) e no Festival de Outono (final de Outubro). Para tirar o melhor partido da sua visita, considere que esses períodos oferecem muitas oportunidades de entretenimento mas os preços são mais caros. Arita possui várias associações de guias e um serviço de táxi muito eficiente. As distâncias entre os locais são consideráveis, pelo que deverá optar por carro, táxi ou bicicleta.