Templo Kinkaku-ji, Quioto

O brilhante pavilhão dourado e o seu espaçoso jardim

O Templo Kinkaku-ji (concluído em 1398 e hoje oficialmente chamado Templo Rokuon-ji) é normalmente traduzido como "Templo do Pavilhão Dourado". Apesar de tendermos a focar-nos na bela estrutura que aqui existe chamada Kinkaku, toda a zona é de facto muito especial.

Um Shogun aposentado, Ashikaga Yoshimitsu (1358-1408) construiu uma quinta privada para si chamada Kitayama-dono. Incluía o pavilhão Kinkaku, e era usada como casa de hóspedes para o Imperador, emissários estrangeiros, e membros da nobreza. Como político, Yoshimitsu prestou dois valiosos serviços ao Japão. Primeiro, pôr fim a um conflito de mais de cinquenta anos (1336-1392) entre as duas Cortes Imperiais. Segundo, restaurou laços diplomáticos e comércio internacional com a Dinastia Ming. Foi o primeiro contacto oficial entre as duas partes em 500 anos, desde a Dinastia Tang. Yoshimitsu terá construído o Kinkaku como forma de expressar o seu sucesso e poder.

A quinta tornou-se parte do Templo Shokoku-ji após a morte de Yoshimitsu, mas continuou a ser um local muito popular para a realização de festas entre membros da nobreza. O destaque era, como é óbvio, o Kinkaku, mas as pessoas naquela altura também apreciavam caminhadas no seu jardim, passeios de barco no seu grande lago, e a fantástica vista da ponte por cima do lago.

Festas de luxo no pavilhão dourado

De 1402 a 1407, Yoshimitsu acolheu os emissários da Dinastia Ming todos os anos aqui em Kitayama-dono. Em 1408, o Imperador Go-komatsu visitou Kitayama-dono e permaneceu por três semanas. Durante esse tempo, Yoshimitsu fez uma festa de receção e divertiu o Imperador com espetáculos de dança de Mai, competições de poesia Renga ou Waka, e passeios de barco no lago.

O diário de um sacerdote do Templo Shokoku-ji descreve a quinta como sendo,

"...quase como o paraíso; esta fascinante quinta é falada por toda a gente na cidade. Há estruturas muito altas, um pavilhão fantástico, e edifícios esplêndidos com belas pinturas e esculturas. Estão espalhados pelo recinto, como se fossem estrelas no céu."

Outro diário escrito 200 anos mais tarde em 1638 por um sacerdote do Templo Kinkaku-ji diz,

"Desfrutámos de chá verde na casa de chá, e subimos a colina para almoçar e beber um pouco de saké. Depois disso, voltámos ao Kinkaku e demos um passeio de barco. Foi muito agradável. Mais tarde, comemos noodles udon e arroz misturado com vários ingredientes."

Detalhes do pavilhão dourado

O pavilhão é um edifício de três andares. O primeiro andar consiste numa ampla sala chamada Shinden-zukuri; o segundo andar tem duas salas divididas por portas deslizantes de papel e uma varanda, chamada Buke-zukuri; e o terceiro andar inclui uma caixa com ossos de Buda. A sala está rodeada de janelas em forma de arco, chamados Zenshu-yo. O exterior do primeiro andar é feito de madeira escura. Em contraste, os dois andares de cima estão envolvidos por brilhantes paredes douradas. Dado o pavilhão estar junto a um lago grande, a imagem refletida do edifício tremeluz na água. O primeiro andar de cor escura, que a maior parte das pessoas nem se apercebe, contrabalança os brilhantes andares de cima.

História do jardim

O proprietário original desta terra era Nakasukeo (1157-1222), um nobre da corte. E o nobre de mais alto nível na corte, Saionji Kintsune (1171-1244) comprou-a e construiu uma enorme quinta e templo para a família, e chamou-lhe Kitayama-dai. Ele construiu um fabuloso caminho de excursão no jardim à volta do lago com cascatas artificiais e muitas e belas rochas. E também construiu uma câmara de pedra para uma estátua Budista na colina. De acordo com o diário do nobre e poeta Fujiwara no Teika, Teika desfrutava dos fantásticos jardins e venerava uma nova estátua Budista em Kitayama-dai. Teia escreveu: "Nada pode ultrapassar isto." Mas os belos jardins arruinaram-se quando a Família Saionji perdeu o seu poder.

Em 1397, Yoshimitsu recebeu a terra da Família Saionji e reproduziu a esplêndida quinta Kitayama-dono na mesma. Ele modelou a quinta com base no Templo Saiho-ji. O Saiho-ji tinha um jardim de dois estratos combinado com um jardim com um lago para excursões na parte inferior e um jardim seco na parte superior. O jardim inferior tinha um pavilhão de dois andares junto ao lago, enquanto que o jardim superior foi construído no interior e em redor de um antigo cemitério. É sabido que Yoshimitsu admirava o Sacerdote Zen Muso Soseki e visitava com frequência o Templo Saiho-ji, um templo que Muso Soseki tinha regenerado 50 anos antes. Yoshimitsu chegou mesmo a ficar durante toda a noite no templo para a sua própria prática Zen.

Jardim de dois estratos no Kinkaku-ji

O jardim com um lago para excursões que inclui o Kinkaku é o primeiro estrato do jardim. Este sugere a existência de um paraíso neste mundo. Quando o sol se põe, as paredes douradas do pavilhão são iluminadas pela luz do sol. O Kinkaku chegou a estar ligado ao lado este do lago por uma ponte em arco. Nessa altura, ao estar na ponte, que estava muito próxima do pavilhão, tínhamos a hipótese de ver ambos o Kinkaku brilhantemente iluminado e os seus tremeluzentes reflexos na superfície do lago. Os Budistas acreditam que o Paraíso da Terra Pura está no oeste. Por isso, a ponte servia de intermediário entre um paraíso neste mundo e a Terra da Pureza.

O jardim superior na colina é o segundo estrato de todo o jardim, invocando a terra daqueles que já partiram. Isto dá-se ao facto de que o antigo dono desta terra tinha um templo de família e um cemitério aqui. Yoshimitsu deu um uso inteligente ao antigo cemitério durante o planeamento do jardim, e tentou mostrar o contraste do brilhante pavilhão dourado com o mundo dos mortos.

Sobre esta série

Em 1339, o Sacerdote Muso Soseki desenhou e construiu um jardim de dois estratos de excursão no Templo Saiho-ji. Ainda hoje é famoso e muito admirado. O contraste entre o elegante jardim com um lago na parte inferior e o severo jardim seco na parte superior terá sido muito poderoso. Quase 700 anos depois, o jardim mudou completamente. Agora podemos desfrutar do charme de um jardim coberto por um belo tapete de musgo.

Por admirarem e muito Muso Soseki e o seu trabalho, as pessoas de poder das gerações que se seguiram modelaram os seus próprios jardins com base no jardim de dois estratos do Saiho-ji. Nesta série, gostaria de olhar para três jardins muito especiais em Quioto e considerar a sua beleza a partir da perspectiva do seu uso do espaço.

Templo Saiho-ji: Jardim com um tapete de musgo para prática Zen

Templo Kinkaku-ji: Brilhante pavilhão dourado e o seu espaçoso jardim para festas

Templo Ginkaku-ji: Delicado pavilhão prateado e o seu jardim para apreciar a lua

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