A Magia Secreta do Tosho-gu - 3

Estilos Neo-Ocidentais aplicados no desenho do terreno

Aviso

Toshogu Shrine has been undergoing a wide-ranging renovation program since 2007 and is expected to last until March 31, 2024. Works are gradual and isolated to avoid disruption, so it is likely the impact of any visit is minimal.

Latest on Nikko Toshogu Shrine

A criação do mágico Tosho-gu de Nikko foi posta em marcha por Tokugawa Ieyasu, e fisicamente posta em ação pelo sacerdote Tenkai. Kano Tanyu desenhou as esculturas para as suas estruturas. Descobrimos muitos segredos escondidos que os dois criadores usaram nos primeiros dois artigos. Neste artigo vou-me focar noutro desenhador, Kobori Enshu, que organizou os planos paisagísticos do Tosho-gu. Mas antes disso, gostaria de lhe falar sobre duas criaturas imaginárias que protegem o santuário de Ieyasu.

Tsutsuga no Portão Kara-mon

Repare no telhado do portão Kara-mon. Pode ver quatro criaturas a defender o edifício principal (Honsha) em quatro direções. À frente e atrás estão Tsutsuga (恙), funcionando como guardiões durante a noite. Tsutsuga é uma criatura feroz, muito mais forte que um tigre. As suas pernas estão presas por anéis dourados para que não possam escapar daqui.

Shin no Portão Inuki-mon

A palavra para miragem é shin-ki-ro em japonês. O caracter kanji mostra-nos que quando a criatura Shin expira (蜃), aparece uma torre fantasma - uma miragem. Pode ver três tubos ondulados a sair da boca do Shin. Não são a sua língua, mas sim a sua respiração visualizada. O seu papel é iludir e afastar os intrusos da sepultura de Ieyasu.

O desenhador paisagístico do Tosho-gu, Enshu

Kobori Enshu era um grande mestre da cerimónia do chá. Como deverá saber, o famoso mestre, Rikyu, completou o "Caminho do Chá" japonês e buscou nele simplicidade. Enshu continuou com o conceito de simplicidade de Rikyu, mas modificou e reorganizou os detalhes. Estabeleceu uma nova tradição de estilo, adotando algumas ideias Ocidentais (desconhecidas). Ele mostrou talento não só para a cerimónia do chá, mas também para arranjar jardins, caligrafia, cerâmica, e especialmente arte espacial. Kenji Miyamoto escreveu em “Nikko Tosho-gu Kakusareta Shinjitsu” 『日光東照宮 隠された真実』 que Enshu aprendeu alguma ciência Ocidental avançada através de missionários três anos antes de começar a trabalhar no Santuário Tosho-gu.

Os métodos de Enshu para o desenho dos terrenos

Enshu introduziu secretamente vários estilos Ocidentais no Tosho-gu. Oficialmente, o Xogunato Tokugawa tinha as suas portas fechadas ao resto do mundo, mas na realidade, o Xogunato possuía alguns canais secretos que eram usados para trazer informação e artigos especiais de outros países. Miyamoto diz que o Imperador pediu a um "missionário" para ensinar especialidades Europeias a um "arquiteto" sob a alçada do Palácio Imperial. Três técnicas principais utilizadas no Tosho-gu foram: Perspetiva, Vista, e a "Proporção Áurea" - três sérios conceitos de arte que floresciam na Europa naquela altura.

Perspetiva

Enshu queria criar um espaço que parecesse maior do que realmente era, e caminhos que parecessem mais longos do que realmente eram. O caminho entre os grandes cedros é um bom exemplo. Naqueles dias, quanto mais para a frente avançasse, mais curtos eram cortados os cedros. Isto criava a sensação de um longo e estreito caminho.

As escadas de pedra em frente ao portão utilizam um método semelhante. Tanto naquela altura como agora, quando mais sobe nas escadas, mas estreitas elas ficam, e a altura de cada degrau torna-se mais e mais pequena. Isto cria a sensação de uma escadaria que parece muito mais longa e íngreme do que realmente é. Os Romanos também usavam a mesma técnica para criar catedrais que pareciam muito mais altas e fundas do que eram na realidade.

Na parte central do Tosho-gu, há três portões: Primeiro o Omote-mon, depois o Yomei-mon, e por último o Kara-mon - todos em linha. O Omote-mon é o maior, e fica situado na parte mais baixa, enquanto que o Kara-mon é o mais pequeno, e fica situado no ponto mais alto. Isto dar-lhe-á a sensação de que a distância do Omote-mon ao Kara-mon é muito maior do que realmente é.

Vista

Quando passar pelo portão de pedra no fim do longo caminho de cedros, entrará de repente num vasto espaço quadrangular chamado “Sen-nin-masu-gata" (um espaço para 1000 pessoas). Isto assemelha-se à ideia de uma praça Europeia, que fica usualmente situada no fim de uma rua estreita. Enshu criou este efeito para fazer com que o espaço parecesse muito maior do que realmente era. Com a mesma idade, Michelangelo desenhou um parque usando o mesmo método para a Piazza del Campidoglio.

Proporção Áurea

A proporção áurea cria uma sensação de conforto e calma quando utilizada em obras de arte. A proporção áurea é cerca de 1:1.618. A Mona Lisa e A Última Ceia de Da Vinci usam este método com eficácia - por exemplo, a face da Mona Lisa com a largura da sua testa e a distância do topo da sua cabeça ao seu queixo. Enshu utilizou a proporção áurea no Yomei-mon, no Kara-mon, e no interior do Honsha (o edifício principal). A proporção de largura e altura do Yomei-mon é exatamente 1:1.618.

Fonte de Heron

A propósito, pode encontrar a "Fonte de Heron" no interior da bacia de água benta (relativamente próximo dos estábulos dos cavalos sagrados). Para isso, Enshu usou secretamente uma técnica inventada por Heron de Alexandria no século I D.C. Trata-se de um sistema de transferência de água que usa um sifão para mover a água.

Caminho complicado para o Santuário Okumiya

Depois do primeiro portão Omote-mon, viramos à esquerda, e depois, viramos à direita no segundo portão. Seguidamente, subimos os degraus de pedra para uma plataforma para passar pelo terceiro portão. Repetimos este processo mais uma vez, e finalmente alcançamos a sala de adoração. Os portões e os degraus são barreiras. Significa que várias camadas de fortes barreiras protegiam a sala de adoração. Mas o local mais importante não é aqui. É fora dessas barreiras. Precisamos de sair do Portão Sakashita-mon e subir mais uma escadaria de pedra em direção ao Santuário Okumiya. Os degraus estão misteriosamente curvados e o santuário é muito simples e singelo. Em contraste com as cores brilhantes do Tosho-gu, Okumiya é calmo. Estes caminhos complicados e edifícios escondidos e discretos fazem parte da técnica especial de Enshu para guardar a sepultura de Ieyasu. Enshu seguiu os métodos clássicos japoneses para proteger esta área.

Sem qualquer dúvida, Enshu aprendeu e digeriu muito bem a arte Renascentista secretamente, e aplicou-a no Tosho-gu. Aprecio que ele não tenha hesitado em expandir o seu mundo. E acredito que Ieyasu também o fez. As inovações de Enshu, os rituais ocultos de Tenkai, e o desafio de Tanyu para criar esculturas tridimensionais a partir das suas pinturas bidimensionais foram todos combinados para construir um Tosho-gu que se tornou numa das estruturas mais únicas em todo o mundo.

Sobre esta série

Aquando da sua construção no século XVII, o Santuário Tosho-gu de Nikko era um único e completamente novo tipo de santuário. Porquê e como foi construído, e qual era o objetivo deste santuário? Gostaria de considerar estas e outras questões nesta série. Por favor aceda ao índice abaixo.

1 - Local de poder supremo feito por Ieyasu e seguidores

2 - Sinais escondidos por trás de muitas esculturas

3 - Estilos Neo-Ocidentais aplicados no desenho do terreno

Mais informação

Descubra mais sobre Nikko Toshogu Shrine

0
0
Este artigo foi útil?
Help us improve the site
Give Feedback

Deixar um comentário

Thank you for your support!

Your feedback has been sent.