O Templo Daio-ji, situado na região nordeste de Tochigi, em Kurobane, foi fundado em 1404 como um templo Zen. Um senhor feudal em Kurobane, Ohzeki, tornou-se num pilar poderoso em 1448 e a Família Ohzeki tem continuado como seguidora deste templo há gerações. Vários edifícios com telhado de palha são aqui bem mantidos, e um caminho de terra batida dentro do claustro, onde milhares de sacerdotes caminharam durante 600 anos, reflete as suas sérias práticas. Em 1693, um alto sacerdote da dinastia Ming da China passou por aqui no caminho de volta para o seu templo em Mito, Ibaraki, depois de visitar as fontes de água termal em Nasu. Ele deixou a sua preciosa caligrafia de título, manuscritos, e três desenhos a tinta da Índia como lembranças.
Templo Daio-ji
O Daio-ji fica no lado Este do Rio Naka, que divide Kurobane em duas partes. O Rio Naka nasce como um riacho de água límpida a partir de um vulcão, o Mt. Nasu, e corre até ao Oceano Pacífico em Ibaraki. Também é conhecido pelo seu saboroso ayu (sweetfish).
Do Portão Sanmon ao Portão Somon, há umas impressionantes estátuas de pedra que alinham com os degraus de pedra. As 16 estátuas de expressivos Rakans (conquistadores de Nirvana) são unicamente atraentes e fotogénicas. Foram erguidas em 1994 para comemorar o 600º aniversário deste templo. No Portão Somon, podem ver-se as pouco nítidas mas lindas letras de "Ryoju" (o significado original de Ryoju é uma montanha indiana onde Buda ensinou os seus seguidores). A sala principal fica além do portão, o edifício à esquerda é para meditação Zen, e o edifício à direita são as instalações onde vivem os sacerdotes. Todos os três edifícios estão ligados, com um claustro que circunda o pátio.
Sacerdote Toko Shinetsu
Toko Shinetsu nasceu em Jinhua (em Ming) em 1639. Jinhua é hoje famosa pelo seu presunto. Ele passou os seus anos de juventude numa situação caótica no fim da dinastia Ming e no início da dinastia Qing. A meio do seu treino budista, ele de repente deixou o sacerdócio e juntou-se à guerra. Tornou-se num sacerdote armado e lutou fervorosamente contra os Qing. Mas eventualmente, ele desesperou com o interminável conflito e voltou ao templo para continuar com a sua prática. Depois disso, estudou e meditou durante anos até finalmente atingir um despertar espiritual. No entanto, o facto de ter participado na guerra causou-lhe muitas dificuldades posteriormente na sua vida.
Em 1676, Toko Shinetsu veio para o Japão como um refugiado político, para escapar aos Qing, que o perseguiam. O Japão tinha oficialmente fechado as portas ao mundo, mas os altos sacerdotes de outros países podiam ficar em Nagasaki clandestinamente. Naquela altura, algumas seitas budistas confrontavam-se no Japão. E os opositores da sua seita tentaram fazer com que ele saísse do Japão. Para contrariar esta situação, a sua seita fez muita pressão em Edo (antiga Tóquio) para que ele pudesse ficar. Finalmente, o poderoso senhor feudal Mito Mitsukuni recebeu-o. Em 1683, Toko Shinetsu mudou-se para o território de Mitsukuni, Mito, e começou a ensinar não só Budismo, mas também vários tipos de arte Zen. Os artistas japoneses que aprenderam com Toko Shinetsu absorveram a essência dos seus ensinamentos e prosseguiram para melhorar o nível de cada um dos campos da arte que exerciam (Cf.『東皐心越』高田祥平著).
Arte Zen
Toko Shinetsu era um artista versátil, músico e poeta. Ele deixou muitos trabalhos no Japão. Os seus trabalhos de desenho a tinta da Índia, produção de selos, caligrafia, música com cítara chinesa, canto, e poemas chineses eram todos sofisticados e respeitáveis.
Produção de selos trata-se do fabrico de carimbos. O carimbo é usado como assinatura para documentos legais, mas a marca em si é considerada uma obra de arte. Ele por vezes fazia selos como presente para outros sacerdotes. De entre os seus trabalhos de caligrafia, há que mencionar que ele criou 47 caligrafias do título de templos por todo o Japão. Nenhum outro sacerdote conseguiu esta esplêndida proeza. "Ryoju" no Templo Daio-ji é uma delas.
Amizade com o senhor feudal, Tokugawa Mitsukuni
Mito Mitsukuni foi um dos netos de Tokugawa Ieyasu (o Primeiro Xógum do Xogunato Tokugawa). Mitsukuni era uma pessoa influente tanto na política como em atividades culturais. Ele estudou espólios culturais protegidos, classicismo, e editou a "História do Grande Japão".
Eles conheceram-se quando Mitsukuni convidou Toko Shinetsu para uma cerimónia de chá. Mitsukuni preparou e serviu chá a Toko Shinetsu, de acordo com os rituais. Um grande silêncio preencheu a sala de chá. No preciso momento em que Toko Shinetsu ia beber o chá verde, eles ouviram o som de uma arma. Mitsukuni observou cuidadosamente Toko Shinetsu que estava calmo e muito tranquilo e levou o seu tempo a terminar o chá. Cheio de admiração, Mitsukuni sentiu a requintada segurança de Toko. Então Mitsukuni começou a beber o seu chá. De repente, Toko Shinetsu gritou numa voz fulminante. "KAAATSU!" Mitsukuni ficou surpreendido e quase deixou cair a sua chávena de chá. Toko Shinetsu disse a Mitsukuni, "O som de um disparo é natural para um samurai, e uma voz fulminante é natural para um sacerdote Budista Zen". Eles riram-se juntos e este foi o início de uma profunda amizade que permaneceu até Toko Shinetsu falecer.
Toko Shinetsu associou-se a um grande número de sacerdotes, políticos, literatos, estudiosos, e músicos japoneses. A sua influência na arte e literatura japonesas ficou marcada em várias áreas e tornou-se na base da florescente cultura de Edo 200 anos mais tarde.
Sobre esta série: Budismo Além-Mar
Nesta série, gostaria de apresentar seis sacerdotes especiais da antiga China que tiveram uma grande influência no Budismo Japonês entre os séculos VIII e XVII.
1. Ganjin Wajo (688-763): Templo Toshodai-ji, Nara
2. Rankei Doryu (1213-1278): Templo Kencho-ji, Kamakura
3. Mugaku Sogen (1226-1286): Templo Engaku-ji, Kamakura
4. Issan Ichinei (1247-1317): Templo Shuzen-ji, Izu
5. Ingen Ryuki (1592-1673): Templo Manpuku-ji, Uji
6. Toko Shinetsu (1639-1696): Templo Daio-ji, Tochigi