O Japão é o país do arroz. Certo? Sem dúvida. Mas isso não significa que os japoneses não tenham também um gosto apurado para o sector da panificação, especialmente numa cidade que foi capital imperial durante mil anos!
Se é verdade que "pequeno-almoço", "almoço" e "jantar" se dizem em língua japonesa, respectivamente, "arroz da manhã", "arroz da tarde" e "arroz da noite", também é verdade que o Japão se perdeu de amores pelo pão desde que este foi introduzido pela primeira vez pelos portugueses no século XVI. Desde então, o pão andou dentro e fora de moda, ao sabor de ditames da política, dos impostos (sobre o trigo) e das regras de costumes. Mas, no período do Japão em que a "febre pelo ocidente" mais se fez sentir, as padarias explodiram de popularidade. Tão ou mais importante que a qualidade do produto em si, que era agora fabricado com acesso directo a receitas europeias, a fama das padarias ligava-se ao fenómeno de estatuto social que dava "comer à moda ocidental".
Foi precisamente em 1913 que nasceu em Quioto aquele que viria a ser um império da panificação requintada, a padaria Shinshindo. Hitoshi Tsuzuki, o seu fundador, foi aprender panificação a França e adquiriu fornos alemães, mantendo desde o primeiro dia o compromisso de fazer pão com o espírito, tradição e gostos dos europeus. E, no Japão, marcou a diferença. Os japoneses reagiram com devoção ao lema da sua padaria: "fazer, todos os dias, o pão nosso de cada dia", numa alusão directa ao seu compromisso simultaneamente como profissional e como cristão. O acto de produzir pão com honestidade (nos ingredientes, no processo, e na intenção) e de lhe dar o cunho de estar ligado a um universo de significado cristão, foi curiosamente a receita para o sucesso. Com o passar das décadas, e apesar de todas as mudanças da sociedade japonesa, a Shinshindo cresceu e multiplicou-se. Hoje existem várias padarias em Quioto, algumas delas acumulando ainda a função de café e outras a de restaurante. Em todas elas pode simplesmente entrar para comprar pão, claro, mas não se esqueça que pode também apreciar o cheiro maravilhoso do pão acabado de fazer se ficar por ali um pouco mais a beber café ou a almoçar.
No caso das lojas Shinshindo com restaurante, que são especialmente populares entre os estudantes universitários ou as jovens mães, ao adquirir qualquer menu de almoço pode estar certo de ter ao dispor um serviço de rodízio interminável de vários tipos de pão. A funcionária vai à mesa aproximadamente de 10 em 10 minutos e descreve o conteúdo do tabuleiro de pão fresco: crocante, simples, fofo, pão-de-queijo, de alho, de ervas, croissant de manteiga, pão de centeio com passas, broa de nozes, etc. A selecção é vasta, e realmente sem limite no numero de serviços. Junto com os pedacinhos de pão vão servir-lhe também manteiga 100% de leite de vaca, também à descrição. Os menus destas cafetarias são convenientemente variados, desde saladas a caril, passando por estufados, ou pratos vegetarianos. Ao nível das bebidas também pode acompanhar como desejar, inclusive com chás e cafés. Os preços são talvez a melhor surpresa, pois a elevada qualidade não lhe fica cara. Pode esperar almoçar bem e pagar menos de 10 euros no final. Habitualmente os consumidores regulares aproveitam o facto de o serviço de pães ser em rodízio e tomam os menus mais pequenos e económicos, pelo que pode até ficar tudo a menos de 7 euros.
Se estiver em Quioto e tiver saudade do cheirinho do pão acabado de cozer, ou simplesmente se quiser conhecer esta subcultura gastronómica muito particular da cidade, visite uma das várias Shinshindo (ver mapa) e verá que fica fã!